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Carne de Carnaval

No carnaval pode tudo. No carnaval a mulher é livre pra se fantasiar do que quiser. No carnaval as mulheres podem ficar com os peitos de fora em rede nacional. No carnaval se faz campanha do uso de camisinha, no carnaval pode-se transar com o cara que você acabou de conhecer.

A mulher é livre no carnaval?

Não… Se a mulher já é alvo de assédio durante o resto do ano, no carnaval a escalada desse tipo de violência é assustadora.

São pouquíssimas as mulheres que nunca tiveram seus corpos apalpados, encoxados, roçados sem seu consentimento, por homens que nunca viram antes. Poucas são as mulheres que não tiveram seus cabelos, mãos e braços puxados, seu caminho obstruído por um marmanjo que só a deixaria passar se lhe desse um beijo. Muitas sofreram investidas, beijos forçados, foram agarradas.

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A mulher que ousa estar e ocupar o espaço público sempre sofreu com o assédio. Somente uma mulher consegue entender o quão profundamente essa violência cotidiana pode nos atingir. Ter nossos corpos observados como se estivéssemos numa vitrine de objetos sexuais, tira completamente a nossa humanidade, nos transformando em coisas. Comentários de todos os tipos, nos colocam na defensiva em todos os lugares que passamos. Pensamos em roupas, em caminhos, em horários, para podermos nos prevenir do que pode acontecer nas ruas.

Para a lógica da cultura do estupro, na qual vivemos, a mulher se faz de difícil, a insistência traz recompensa, o “não” quer dizer “sim”. No carnaval essa lógica é pintada com cores mais vivas, toda mulher que está na rua disse “sim” ao sair de casa. O corpo da mulher que vai curtir o carnaval é público, ainda mais público que já o é normalmente.

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Se ao longo do ano as mulheres negras são ridicularizadas e invisibilizadas, durante o carnaval, festa de raiz e resistência negra, seu papel é interpretar a hipersexualizada personagem da mulata. Seus corpos, carnes mais baratas do mercado, são vistos como objetos sexuais para aventuras de brasileiros e gringos. As camisetas da Adidas estão ai para não nos deixar mentir. A Globeleza está ai para não nos deixar mentir. Citando post da campanha do Coletivo Negração:

 “A Globeleza representa a nossa exploração, representa o quanto ainda nos tratam como se só fossemos feitas para o sexo e para demonstrar, dentro da sociedade, o selvagem, o folclórico. Ela representa o controle que a mídia branca e machista obtém sobre os nossos corpos, mas não se deixem enganar, “não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria, é atrair gringo turista interpretando mulata.”

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Neste ano, percebi diversas campanhas por um carnaval sem violência contra a mulher. Espero que estas despertem a sensibilidade de muitos homens, para que tenhamos um carnaval com menos agressões e violações de direitos das mulheres que o anterior. Mulheres, negras, indígenas, amarelas, brancas, lésbicas, bis, heteros, trans, cis, estamos juntas! Somos mulheres e não objetos. Por um carnaval sem violência!

http://coletivonegracao.blogspot.com.br/2014/02/minha-carne-e-de-carnaval-nao-teu.html